segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

LUCIDEZ

LUCIDEZ
A lucidez é a fonte do discernimento. Todo o conhecimento humano é interpretação, a qual pertence à estrutura do conhecer. A subjetividade tende para relativizar tudo e significa a interioridade da consciência, oposta à exterioridade do mundo; mas se forma pela relação com o exterior. Como sujeito de  significação, de valores, de compreensões e interpretações da realidade. O momento exige cada vez mais lucidez.
Cada posição tem a sua perspectiva de visão e de ocultamento. Todo o ponto de vista é a vista de um ponto. A lógica é denotar a conotação, isto é, tornar claro tudo o que se esconde no que afirmamos,que é o nosso discurso.
É necessário assumir uma posição crítica, lúcida, desentranhando os pressupostos, os interesses, as sutilezas dos movimentos econômicos, políticos, sociais, culturais e religiosos em curso; alimentando a consciência vigilante em meio à tanta perplexidade. Entre o catastrofismo assustador e o otimismo lírico cabe a racionalidade sensata e lúcida.
A humanidade recarrega-se de esperança em nome da reserva espiritual que ainda existe nas pessoas. Todavia, a euforia ingênua, peca por irresponsabilidade grave e capitula facilmente diante dos apelos consumistas, das maiorias mal intencionadas e do “vale tudo”.
O cosmos, a ordem da natureza, a espiritualidade, o Todo como a grande finalidade. O espelho para a conduta adequada e para o verdadeiro desabrochar da essência humana. A natureza guarda dentro de si o mistério da existência do ser humano. É preciso desvendar o caminho a trilhar, os limites a assumir, incluindo os passos da virtude. Deus traça os caminhos dos homens para a prática do bem. A estes cabe seguir tais ensinamentos para a sua restauração à perfeição. O sujeito moderno acha que assenhorou-se do cosmos e da natureza e constituiu-se a si mesmo, como o último fundamento de todos os valores. A lucidez é a condução para evitar estes extremos. Nem submissão mística e nem autonomia absoluta.
A natureza carrega em si os traços da criação de ser transcendente e exige respeito e acolhimento. A lucidez implica em desenvolvimento tecnológico, com capacidade de transformação da realidade e sentido de limite de tais empreendimentos. Nem fatalidade natural, nem egoísmo devastador. A destruição de valores e elementos coletivos que fundamentam o convívio social; Não pode justificar certos empreendimentos. A modernidade está perdendo a transcendência, base última dos valores humanos e sociais. As coisas deixam de ser teocêntricas e cosmocêntricas para se tornarem antropocêntricas, criando a era do vazio, de ceticismo cínico e da descrença difusa. A lucidez pode encontrar o equilíbrio.
Os que habitam no espaço da fé percebem as pegadas de Deus e a transcendência. A modernidade centrada extremamente no sujeito provoca o efeito da conversão à felicidade imediata e da negação do universal. Só com lucidez viver-se-á o presente com realismo das possibilidades, nunca além. Só se conhece a felicidade porque existe a infelicidade. Os contrastes é que revelam o benéfico e o que é maléfico. Recusam a esperança e negam a felicidade prometida para o futuro; cuja está à disposição de todos, mediante o cumprimento de determinados comportamentos adequados. O presente do futuro é a espera. Parece inatingível, mas a misericórdia Divina torna possível, de graça, para quem quer e segue a instrução. O presente já anuncia o futuro. Não existem objetivamente respostas certas ou erradas para os problemas atuais, um dia, quiçá isto será revelado. Cabe em lugar de respostas um pragmatismo prudente e circunstancial. O excesso de confiança na inteligência humana conduz à prepotência. A lucidez conduz à discussão para a busca comum da verdade, sem renunciar à esperança do seu verdadeiro significado a ser revelado no futuro transcendental. Todo o real é racional.
Todo o amor quer eternidade; só amor de Deus a realiza. O verdadeiro amor é incondicional. Só o absoluto não morre; o renascer aponta para o relativo e o incessantemente aponta para o absoluto. O Amor implica em regeneração permanente do amor nascente. À medida que nos aproximamos da morte, defrontamo-nos com o mistério do absoluto. Toda a realidade que nos afeta de maneira incondicional esconde algo de absoluto. O ser humano nasce natureza, faz-se cultura e se insere na sociedade.
A tecnologia desempenha papel fundamental no processo de mudança. O primeiro encontro se dá no mundo das coisas; nada existe no intelecto sem antes ter estado nos sentidos. A primeira pergunta diante de uma mudança: para onde se muda? Só tem sentido mudar da morte para a vida. A vida brota das mãos de Deus. Hoje só faz parte da sociedade quem consome e à medida que o faz. Quanto mais participa do mercado mais cidadão. Todavia, o ter só adquire verdadeiro significado, na medida em que se vincula ao ser. As coisas foram criadas para serviço do homem e não ao contrário. Na versão antropológica, o ter deve servir para a realização do ser do homem, como última finalidade. A lucidez interfere relembrando o destino derradeiro do ser humano e orientando o uso de tudo nesta direção. O bem comum supõe que os humanos foram criados para alcançar o bem o tempo todo. A realização pessoal só é legítima se estiver em harmonia com a realização dos outros. Aqui o ser humano nunca tocará a raiz última dos problemas. Resta criar novas relações sociais, economia solidária, a produção voltada para o bem estar de todos, o vegetarianismo, a economia ecológica, a gratuidade do acesso ao saber, sociedade comunitária autogestionária, uma inteligência universal com capacidades criativas a todos e novos modos de viver e criar. Para a sustentabilidade tem que ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. Pertence ao ser humano a natureza do duplo movimento de criar estruturas para viver e regras de comportamento; cuja falta amedronta, mas a sua existência também asfixia. Nisto implica a lucidez da liberdade responsável. Sem norma o convívio social não existe. A lucidez sempre traça o caminho entre os extremos. Existiram realidades antes de nós, foram vividos valores que nos transmitiram e que atravessaram a fugacidade do instante. Há realidades transcendentes. Somos o que recebemos e o que criamos. Do passado vêm lições, valores e leis que são resignificadas no presente.
Tudo se encontra aberto, mas tem um traço. Surgem incertezas a cada momento, nas menores coisas. Não podemos ter a pretensão de dominar o futuro e nem a realidade; mas isto não significa ficar alienado. A lucidez sempre é a conciliação, o meio que prepara o espírito para vencer os obstáculos. Nada se resume totalmente ao mensurável, sempre algo fica fora. Ninguém possui a verdade para si. Só com lucidez caminha-se retamente no labirinto das tensões. A globalização não é um fato acabado, mas um processo em marcha. O pensar é a busca da verdade e faz parte da natureza humana e da interioridade da pessoa. Liberdade e pensar  relacionam-se intrinsecamente. A verdade, o bem e a beleza são sublimes, quem os descobre sente a necessidade de transmiti-los aos outros. Nem toda a verdade liberta, nem toda opinião enobrece e nem todo o conhecimento constrói. A lucidez crítica ajuda discernir. O pensar não conhece limite. A visão da totalidade facilita a articulação das partes no todo. Se tomarmos um problema, dividimo-lo em partes, resolvendo cada parte, teremos o problema resolvido. O Imaginário da fragmentação encanta pela sensação de liberdade e pela variedade de opções.
 A lucidez corrige o extremo da autonomia antropocentrista, indicando os limites de dependência e os toques de transcendência; porque a razão humana depende muito mais do que imagina, embora a sua luta pela autonomia. A lucidez explica justamente as subjetividades envolvidas. O conhecimento é poder, mas vale até que outros conhecimentos o destronem. É o relativismo. Nem a pura objetividade existe e nem a pura subjetividade. A ciência adquire sentido na medida em que serve a toda a humanidade e torna os humanos menos brutos. O ser  humano acabou tornando as descobertas científicas como mitos. Na estatística trabalha-se com a racionalidade probabilística, renuncia-se à certeza. Aponta-se o quociente de erro, para dar maior cientificidade. A lucidez mostra o falso brilho do lucro, propaganda, consumo. O futuro que sacrifica o presente e mobiliza cegamente as forças desencadeia processos suicidas. Sensatez é viver o presente com os olhos no futuro. Inquieto está o coração do homem até que descanse em Deus.
Tolerância implica em reconhecer o verdadeiro direito de o outro expressar-se. O último tribunal é a consciência. Uma das responsáveis pela felicidade é  a estética, como forma de expressão humana. O bom senso é uma das coisas mais bem divididas entre as pessoas, para a sua harmonia. Qualquer leitura implica em interpretação. Os sistemas de crenças exercem papel protetor da vida social. Nascemos completos, mas não perfeitos. Não nos faltava nada para existir como humanos. Habita na mente humana a transcendência. O ser humano deve ser educado para a solidariedade e a fraternidade. Qual o sentido da existência humana? O que é a salvação e como ela se realiza? Salvamo-nos do passado, no presente e para o futuro. Porque a culpa aprisiona. O remorso faz sofrer. O mal praticado é coberto pela misericórdia perdoadora de  Deus.
A lucidez coloca luz, bom senso, reflexão, ocasiona mudança, revisão de posturas e ideologias e transforma o indivíduo.
“Quão nobre é a intenção de aperfeiçoamento pessoal, para atingir parâmetros de harmonia cósmica. (EM).”




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