terça-feira, 13 de janeiro de 2015

COMO SURGIU A IDEIA DE CORAÇÃO=MENTE

 

COMO SURGIU A IDÉIA DE CORAÇÃO=MENTE

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Indaga-se de quando e como surgiu o hábito de referenciar o coração, como sendo a mente humana? Inclusive no texto bíblico há ocorrência desta prática.

 

Tem-se o coração como símbolo do afeto, do amor, dos sentimentos mais profundos e do caráter de uma pessoa, o coração, desde  antigamente, é na imaginação das pessoas, é onde são guardadas as emoções, sentimentos, crenças e pensamentos. Centro misterioso das emoções humanas, concentração da força e a sabedoria. Os demais órgãos funcionam silenciosamente, o coração pulsa, e manifesta a sua presença e, um dos primeiros órgãos do que o homem teve consciência. Associando o coração aos sentimentos e emoções que alternava o seu ritmo normal: amor, medo, susto, sensações marcantes e intensas de momentos especiais. Correlacionado ao estado da alma, à afeição e à generosidade.
A concepção grega:
Indagações fundamentais relacionadas à natureza da mente humana permanecem ainda sem respostas convincentes. Desde os primórdios em diferentes civilizações antigas, como Egito, Mesopotâmia, Índia e China, a cultura que deixou marcas ainda presentes é a civilização grega. A base de todo pensamento ocidental moderno encontra suas origens nesta civilização. Diversos conceitos da neurociência moderna têm alguma origem nas especulações elaboradas pelos antigos filósofos e médicos gregos. A partir desta civilização surgiram observações sistemáticas sobre a estrutura e funcionamento do corpo, da mente e a sua relação.

Homero o poeta grego, estabelecia relação entre o corpo e a mente e os conceitos de saúde e enfermidade. Termos utilizados por Homero para se referir à vida mental do homem: coração ( kradieker e etor), referindo-se ao órgão físico e aos sentimentos e afetos. Onde os sentimentos se manifestariam, não havendo distinção entre o processo psíquico e o órgão físico em si. Termo thymos, referindo-se ao estado de ânimo do sujeito. Termo relacionado com a vida psíquica: phren ou phrenes, associado ao intelecto e ao pensamento em ação. Phren  tomado como "mente", referente à relação entre determinado conhecimento e a ação decorrente do pensamento e, também um caráter ético, "juízo" ou "julgamento". Termo noos se referia ao ato de pensar de maneira abstrata, razão, discernimento e  inteligência. Termo psyché, associado com a respiração. No momento da morte e da perda da consciência, a psyché sairia pela boca, como um suspiro, abandonaria o corpo vagando pelas regiões sombrias do Hades.
Através da Filosofia (phýsis),  baseada essencialmente em causas naturais, os gregos observavam os fenômenos de maneira ampla, na tentativa de identificar o princípio ordenador da natureza (arkhé). Onde o homem é compreendido como parte da natureza universal e, sujeito aos mesmos princípios os quais regeriam os fenômenos físicos. Com a filosofia  ocorrem as primeiras tentativas de interpretar o fenômeno natural de maneira racional, possibilitando a exploração de diferentes aspectos biológicos e psicológicos.
Anaxímenes considerava que a fonte do pensamento humano seria o ar, elemento básico tanto do mundo físico quanto do psicológico. Considerava que a respiração e o ar compreendem o mundo todo. 
Diógenes de Apolônia, atribuía ao ar a capacidade de produzir pensamentos, sensações e vida. O intelecto se manifestaria quando o ar, misturado com o sangue, percorresse todo o corpo através das veias. Considerava o cérebro a sede do intelecto. Quando o ar era respirado, este iria diretamente para o cérebro, deixando lá suas melhores partes.
 Empédocles de Agrigento, considerava que a natureza era composta por quatro elementos primordiais: a água, o fogo, a terra e o ar. E dois  princípios cosmogônicos: a Amor e o Ódio. O Amor seria responsável em promover a união entre os elementos primordiais, enquanto o Ódio, a separação deles. A percepção aconteceria devido aos poros sensoriais serem capazes de captar as emanações dos quatro elementos primordiais feitas pelos objetos, com base na atração dos semelhantes. Considerava o sangue importante na produção dos pensamentos. Que a intelectualidade seria produzida pelo sangue, concentrado na região do coração.
Alcmeon de Crotona, entendia o cérebro como sede da razão e centro de todas as sensações, como filósofo e médico. A mente humana seria criada pelo cérebro, sede da sensação e da cognição e as diferenças entre os animais e os seres humanos, afirmando que estes capazes de compreender, os animais de apenas perceber. Discutiu os sentidos, propondo a existência de canais sensoriais (poroi) que levariam as sensações até o cérebro. Afirmou a existência de dois poroi os quais conectariam os olhos ao cérebro os nervos ópticos. Propôs a doutrina médica sobre a relação entre saúde e doença, os pares de potências opostas (dýnamis): úmido e seco, frio e quente, amargo e doce; que quando misturados de forma equilibrada (isonomia) no interior do corpo humano, proporcionam ao sujeito o estado de saúde; a perda desse equilíbrio a enfermidade.
 Teofrasto: todos os sentidos estão, de alguma forma, ligados ao cérebro. Tornam-se incapacitados se o cérebro for movido ou tirado de posição; porque tal obstrui as passagens através das quais operam os sentidos.
Hipócrates: propõe que o corpo é composto por quatro humoressangue, flegma, bile amarela e bile negra. A saúde associada com a perfeita justa proporção destes humores, tanto qualitativa quanto quantitativamente. A doença resulta do isolamento de um dos humores em alguma região do corpo, desequilibrando seu funcionamento. Adepto à tese cefalocentrista  de um cérebro como sede das diversas funções mentais.
Aristóteles admitia que o coração era fonte de sensações, como fonte de calor, aí estaria a origem das sensações (dor, prazer, desejo e outras reações emocionais), daí a palpitação que aparece nas comoções. Uma visão cardiocentrista, o coração como a sede do intelecto.
Platão era cefalocentrista.
Outras concepções:
Nas culturas mais antigas o coração  se encontrava ligado às situações de cunho emocional, pois não conhecerem a função do cérebro e o coração era o único órgão cujo funcionamento variava de acordo com as emoções. O “coração” é um vocábulo do latim cor, cordis, que gera expressões como: cordial, acordar, discordar, recordar, recurso, coragem e misericórdia. Do grego kardia, gerando: cardíaco, cardiograma, endocárdio, pericárdio e outros termos médicos.
A palavra “mente” vem do latim mente, ( mens), “espírito”, “intelecto”, “pensamento”, “entendimento”. Mente é o estado da consciência ou subconsciência, relativo ao conjunto de pensamentos. O cérebro é a estrutura física, o pouco mais de 1 quilo de tecido biológico dentro da cabeça. A mente é o resultado do funcionamento do cérebro: os pensamentos, os sentimentos e as emoções. É o sistema total dos processos mentais ou atividades psíquicas de um indivíduo.
Caracterização científica do coração:
A inervação do coração é feita pelo sistema nervoso autônomo (SNA), cujas fibras fazem parte de dois tipos de neurônios que se sinaptam (contatam) num gânglio; as fibras (axônios) dos pós-ganglionares inervam os órgãos. No coração, as fibras pós-ganglionares da divisão (orto) simpática do SNA liberam nor-adrenalina, que aumenta a freqüência cardíaca; as da divisão parassimpática (vagais) liberam acetilcolina, que diminui essa freqüência. O coração está sujeito, à nor-adrenalina (e adrenalina) de descarga das glândulas suprarrenais, cuja medula é, filogeneticamente, uma região ganglionar, pois recebe fibras pré-ganglionares regulares. Numa situação de emergência — (atenção ou emoção diante de um evento, preparação para perseguição ou fuga) — essas glândulas liberam grandes quantidades de adrenalina, para designar um episódio sensacional que nos deixa em suspense. Essa adrenalina liberada é um importante componente da chamada "Reação de Alarme" que predispõe o organismo a enfrentar uma situação adversa; aumenta os batimentos cardíacos e, conseqüentemente, melhora a circulação para os músculos encarregados da resposta motora a essa situação.
Compreende-se, assim, que numa violenta emoção possa ocorrer grande liberação de adrenalina, com possíveis efeitos danosos para o coração, emoções ou a necessidade de um estado de alerta repercutem na atividade do SNA, É que os corpos celulares dos neurônios pré-ganglionares se situam no sistema nervoso central (SNC) e aí estabelecem conexões com importantes centros encefálicos no chamado sistema límbico, cujos componentes formam um complexo interligado, que inclui importantíssimos núcleos (como o hipocampo e a amígdala) e em meio do qual se situa o hipotálamo. Esses núcleos conectam-se com o córtex cerebral e, neste, nenhuma sensação gerada se sustenta ou adquire significado se a informação causadora não chegar simultaneamente a tais núcleos. Assim, o sistema límbico é como um computador que processa a informação sensorial, integra-a e dá-lhe colorido emocional. O hipotálamo é o seu elo com o SNA. As fibras pré-ganglionares do sistema parassimpático pertencem ao X par de nervos cranianos (vago ou pneumogástrico) e se sinaptam com as pós-ganglionares (curtas) nas imediações dos próprios órgãos que inervam.
Metáfora:
O coração é associado, metamoforicamente ao cérebro, segundo o seu condicionamento pelo sistema autônomo dos vários tipos de sentimentos e emoções.
Vulgarmente se afirma que o coração "sofre" com as circunstâncias adversas e "enche-se de alegria" com os eventos prazerosos. Daí surgiram adjetivos como cordial, cordato para indicar a pessoa amável ou de acordo com algo sugerido ou proposto.
Como o ser humano é capaz de pensar racional e/ou fantasiosamente, o que lhe faculta analisar criticamente ou crer piamente nos mitos que lhe são incutidos desde a infância ou decorrentes da tradição das comunidades em que vive. Vai continuar, como adulto, a crer ou fingir que crê, porque lhe apraz ou o atemoriza, no relato de lendas e histórias que desafiam a lógica comum. O caso das razões do coração encaixa-se entre os mitos gerados em eras remotas e persistentes no seio de uma comunidade. Como a  ilusão é um fator de sobrevivência, acreditam nas razões do coração, tomando as conseqüências da estimulação nervosa (palpitações, arritmias, variação na freqüência de batimentos), como manifestações de júbilo ou tristeza do próprio órgão. Metaforicamente pode ser considerado como a sede dos sentimentos, das emoções, e da consciência. Anatomicamente o coração é um músculo oco, é o órgão central do sistema circulatório, responsável pelo percurso do sangue bombeado através de todo organismo.
Conclusão:
O cérebro é o centro das emoções, sentimentos, pensamentos e todo o tipo de sensação. Quando se refere ao coração como centro de emoções, é só por uma questão de figura de linguagem e por associação com as suas funções orgânicas, metaforicamente.
“Aquele que é bom já nasce com esta qualidade; todavia, que não tem cultura só postura aquilo que tem dentro; nem título acadêmico o transforma. (EM).”






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