sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

DERMATOSE OCUPACIONAL

DERMATOSE OCUPACIONAL
E-mail: ernidiomigliorini@gmail.com

A dermatose ocupacional é uma doença que afeta a pele de trabalhadores que laboram em contato com agentes e produtos físicos e químicos causadores de  alergia e irritação. As dermatoses ocupacionais ou Dermatites de contato ou alérgicas ocorrem locais de trabalho que usam solvente, óleos minerais, cimento, cal e similares.
Dermatose ocupacional é qualquer alteração da pele, mucosa e anexos, direta ou indiretamente causada, condicionada, mantida ou agravada por agentes presentes na atividade ocupacional ou no ambiente de trabalho.
Causas Diretas: Agentes Químicos: cimento, borracha, derivados de petróleo, óleos de corte, cromo e seus derivados, níquel, cobalto, madeira e resina epóxi; Agentes Biológicos: bactérias, fungos, leveduras e insetos; Agentes Físicos: calor, frio, vibrações, eletricidade, radiações ionizantes e não ionizantes, micro-ondas, laser e agentes mecânicos.
Causas Indiretas: Os Fatores Predisponentes como Idade, Sexo, Etnia, Clima, Antecedentes.
       Diagnóstico: Para o diagnóstico e o estabelecimento das condutas adequadas das dermatoses ocupacionais, confirmadas ou suspeitas, deve-se considerar o Quadro clínico; História de exposição ocupacional, observando-se concordância entre o início do quadro e o início da exposição, a localização das lesões em áreas de contato com os agentes suspeitos e a melhora com o afastamento e piora com o retorno ao trabalho.
Na DCA, as lesões ocorrem nas áreas de contato com a substância sensibilizante, onde são mais intensas, e também à distância, podendo ser disseminadas. Após a exposição prévia, as lesões surgem em períodos de tempo variáveis, sendo necessário um período mínimo de uma semana para a sensibilização, e podem ocorrer após meses ou anos de contato. A DCA pode surgir de forma abrupta após contato prévio com o sensibilizante. A cada reexposição, a intensidade e a extensão das lesões podem piorar e surgir mais rapidamente.
As lesões eczematosas podem ter evolução aguda (eritema, edema, vesículas, bolhas e exsudação), subaguda (exsudação e crostas) e crônica (xerose, descamação, queratose, infiltração, liquenificação e fissuras). DCI relativa é crônica e a DCI absoluta é aguda, e se manifesta como uma "queimadura" com: eritema, edema, necrose, bolhas, crostas e ulcerações.
As dermatites de contato não eczematosas são: disidrose (metais, óleos de corte); dermatite liquenoide de contato (reveladores fotográficos, resina epóxi, Ni e Cu); urticária de contato não imunológica e imunológica (mediada por IgE), que ocorrem minutos depois do contato (látex, alimentos, plantas, medicamentos, conservantes, fragrâncias)26; vitiligo químico – leucodermia de contato (hidroquinona); erupção purpúrica de contato (produtos da borracha e branqueadores de roupas); eritema polimorfo – símile de contato (plantas, madeiras, medicamentos e pesticidas); erupção pustulosa (metais e pomadas); dermatite queratósica de contato (DCA por borracha); DC hipercromiante pós-eczematosa ou não (cremes, conservantes de óleos, perfumes, corantes, madeira, sabão em pó e limão).
TRATAMENTO:
A identificação e o afastamento do agente causal são medidas de fundamental importância. O tratamento deve ser orientado claramente, fornecendo-se por escrito os nomes dos produtos e das substâncias com os quais o paciente não pode entrar em contato. O tratamento precoce pode diminuir o tempo de evolução das lesões e evitar complicações. Deve-se considerar que o EPI, as infecções secundárias e os medicamentos utilizados pelo doente podem provocar irritação ou sensibilização e as dermatoses auto-induzidas mascaram e pioram a dermatose ocupacional.

O tratamento depende da extensão e da intensidade das lesões. Nas lesões agudas, isto é, exsudativas, devem ser utilizadas compressas de água burricada a 2% ou 3%, ou permanganato de potássio a 1:40.000 e cremes à base de corticóide. Nas formas localizadas de DC crônicas, com lesões descamativas e liquenificadas, preconiza-se o uso de cremes e pomadas à base de corticóides de potência variável, conforme a região afetada. Nas lesões extensas, usam-se corticóides sistêmicos, de preferência, prednisona, em doses iniciais de 0,5mg-1mg/kg/dia, com redução gradual. Se houver infecção secundária, deve ser associado antibiótico tópico e/ou sistêmico. Os anti-histamínicos sistêmicos sedativos podem ser utilizados para tratar o prurido. As infecções ocupacionais são tratadas de acordo com cada agente etiológico. Os cânceres relacionados a atividades profissionais são tratados de acordo com cada tipo histológico e estadiamento tumoral.
As DOs que causam incapacidade requerem readaptação profissional, com orientação médica, vocacional e psicotécnica.
PREVENÇÃO:
As medidas de prevenção nas DOs são extremamente importantes. As empresas devem adotar medidas coletivas para proteção, como exames médicos periódicos e orientações ao trabalhador, para evitar recidivas e o aparecimento de novos casos de DOs, que geram desconforto para o trabalhador, incapacidade para a profissão, mudança de função, diminuição da produção, dos rendimentos do trabalhador e da empresa, e aumento dos custos médicos e previdenciários.
A higiene pessoal deve ser cuidadosa e é indicado o uso de emolientes. As vestimentas devem ser mantidas limpas. As áreas do corpo contaminadas com agentes nocivos devem ser lavadas imediatamente e hidratadas com cremes sem fragrância. A orientação mais importante na prevenção das DCs é o afastamento do fator irritante ou alergênico. Uso de EPIs adequados (botas, gorro, máscara, avental e luvas), roupas especiais e conscientização da higiene pessoal. Os cremes de barreira devem ser usados antes de a dermatite se desenvolver, uma vez que seus componentes podem causar dermatite de contato irritativa e alérgica, especialmente, se usados na pele lesada.  A fotoproteção por roupas e tópicos fotoprotetores é fundamental nos que se expõem a raios ultravioleta.
O uso de luvas adequadas é necessário na prevenção de DOs (exceto nos trabalhos em que a destreza manual é necessária e quando a utilização de luvas implica riscos de acidente de trabalho). Os alérgicos à borracha devem utilizar luvas de vinil ou poliuretano. Os alérgicos ao látex das luvas também podem utilizar a borracha sem látex. Os alérgicos a acrilatos devem usar luvas de nitrila.
Na prevenção de DCAs ao cromo nos trabalhadores da construção civil, é necessário adicionar sulfato ferroso ao cimento, o qual reduz o cromo hexavalente a cromo trivalente, menos sensibilizante.
A prevenção implica em avaliar o ambiente de trabalho, para conhecer riscos potenciais e reais para o trabalhador e propor medidas que neutralizem esses riscos, que devem ser avaliados de acordo com a atividade executada, porque a função de cada trabalhador na atividade exige processos diferentes da prevenção.
NÍVEIS NA PROTEÇÃO DO TRABALHADOR: Prevenção primária: compreende a promoção da saúde, com as edificações e os diversos setores e instalações industriais obedecendo às regras que estabeleçam conforto, bem estar e segurança no trabalho. Estrutura sanitária de fácil acesso e que permita boa higiene pessoal. Restaurante com alimentação apropriada para o clima e a atividade exercida. Centro de treinamento. Orientação sobre riscos específicos atinentes à atividade. Metodologia segura de trabalho. Orientação sobre doenças gerais: tuberculose, aids, diabetes, hipertensão, estresse e outras. Males sociais: tabagismo, alcoolismo, drogas, medicamentos, ansiolíticos psicotrópicos, outros. Normas de higiene e imunização.
Prevenção secundária: Detectando possíveis lesões que estejam ocorrendo com o trabalhador, por meio do atendimento no ambulatório da empresa. Mediante inspeção periódica aos locais de trabalho. Por meio dos exames periódicos e do tratamento precoce.
Ação de forma imediata, neutralizando ou minimizando os riscos, e evitando que a dermatose se instale e atinja os trabalhadores expostos.
Prevenção terciária: O trabalhador apresenta lesões cronificadas ou em fase de cronificação. É fundamental a adoção de medidas terapêuticas adequadas como: retirada do ambiente de trabalho, testes epicutâneos para detectar a presença de possíveis alérgenos. No caso de alergia por cimento (cromatos e cobalto), haverá impedimento para o retorno à mesma atividade; neste caso o trabalhador deverá ser reabilitado para outro tipo de atividade onde possa atuar afastado do risco.
DIRETRIZES DE SAÚDE:
• Atenção Integral à Saúde dos Trabalhadores;
• Articulação Intra e Intersetoriais;
• Estruturação de Rede de Informações em Saúde do Trabalhador;
• Apoio ao Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas;
• Desenvolvimento e Capacitação de Recursos Humanos;
• Participação da Comunidade na Gestão das Ações em Saúde do Trabalhador.
 Portaria n.º 777/04 são: acidentes de trabalho fatais, com mutilações, com exposição a materiais biológicos, com crianças e adolescentes, além dos casos de dermatoses ocupacionais, intoxicações por substâncias químicas (incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados), Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort), pneumoconioses, Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) e câncer relacionado ao trabalho.


SÍNTESE DAS MEDIDAS DE PREVENÇÃO:
Reconhecimento das atividades e locais de trabalho onde existam substâncias químicas, agentes físicos e biológicos ou fatores de risco,decorrentes da organização do trabalho, potencialmente causadores de doenças.
– Identificação dos problemas ou danos potenciais para a saúde, decorrentes da exposição aos fatores de riscos identificados.
– Proposição das medidas a serem adotadas para eliminação ou redução da exposição aos fatores de risco e de promoção e proteção da saúde do trabalhador.
– Orientação e informação aos trabalhadores e empregadores.
– A partir da confirmação ou mesmo suspeita do diagnóstico da doença e de sua relação com o trabalho, os serviços de saúde responsáveis pela atenção a trabalhadores devem implementar as seguintes ações:
– Avaliação da necessidade de afastamento (temporário ou permanente) do trabalhador da exposição, do setor de trabalho ou do trabalho como um todo. Esse procedimento poderá ser necessário mesmo antes da confirmação do diagnóstico, diante de uma forte suspeita.
– Caso o trabalhador seja segurado pelo SAT da Previdência Social, solicitar à empresa a emissão da CAT, preencher o LEM e encaminhar ao INSS. Em caso de recusa de emissão da CAT pela empresa, o médico assistente deve fazê-lo.
– Acompanhamento e registro da evolução do caso, particularmente se houver agravamento da situação clínica com o retorno ao trabalho.
– Notificação do agravo ao Sistema de Informação de Morbidade do SUS, à DRT/MTE e ao sindicato da categoria.
– Ações de vigilância epidemiológica, visando à identificação de outros casos, por meio de busca ativa na mesma empresa ou no ambiente de trabalho o em outras empresas do mesmo ramo de atividade na área geográfica.
– Se necessário, completar a identificação do agente agressor (físico, químico ou biológico) e das condições de trabalho determinantes do agravo e de outros fatores de risco contribuintes.
– Inspeção da empresa ou ambiente de trabalho de origem do paciente e de outras empresas do mesmo ramo de atividade na área geográfica, procurando identificar os fatores de risco para a saúde, as medidas de proteção coletiva e os EPI utilizados. Pode ser importante a verificação da existência e adequação doPPRA (NR 9) e do PCMSO (NR 7), da Portaria/TEM n.º 3.214/1978.
– Recomendação sobre as medidas de proteção a serem adotadas pelo empregador, informando-as aos trabalhadores. A proteção da saúde e a prevenção da exposição aos fatores de risco envolvem medidas de engenharia e higiene industrial, mudanças na organização e gestão do trabalho e de controle médico dos trabalhadores expostos, entre elas:
– substituição do agente, substância, ferramenta ou tecnologia de trabalho por outros mais seguros, menos tóxicos ou lesivos.
– isolamento da máquina, agente ou substância potencialmente lesiva, por meio de enclausuramento do processo, suprimindo ou reduzindo a exposição;
– medidas de higiene e segurança ocupacional, como implantação e manutenção de sistemas de ventilação local exaustora adequados e eficientes, capelas de exaustão, controle de vazamentos e incidentes por meio de manutenção preventiva e corretiva de máquinas e equipamentos e monitoramento sistemático dos agentes agressores;
– adoção de sistemas de trabalho e operacionais seguros, por meio da classifi cação e rotulagem das substâncias químicas segundo propriedades toxicológicas e toxicidade;
– diminuição do tempo de exposição e do número de trabalhadores expostos;
– informação e comunicação dos riscos aos trabalhadores;
– utilização de EPI, especialmente óculos e máscaras adequadas a cada tipo de exposição, de modo complementar às medidas de proteção coletiva.

“Prevenir é planejar todas as ações previsíveis que possam impedir as ocorrências indesejáveis e adotar as medidas neste sentido. (EM).”

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