quinta-feira, 4 de julho de 2013

A CRIANÇA E A MENTIRA

A CRIANÇA E A MENTIRA
Por ERNÍDIO MIGLIORINI E-mail: ernidiomigliorini@gmail.com
Por trás de toda a atitude, sempre existe uma explicação, justificável ou não; mas com certo grau de consciência, intencionalidade e significação.
A criança ao empregar o recurso da mentira, no seu processo de comunicação, tem como implemento vários motivos.
Etimologia do termo Criança: “Quem está ainda próximo do seu processo de iniciação biológica.”
1-RAÍZES DO PORQUE AS CRIANÇAS MENTEM:
*Práticas Paterno-Familiares: Havendo o hábito da mentira no contexto familiar, as crianças tendem a imitar este procedimento dos adultos, como recurso de solução mais fácil para resolver problemas, falseando a verdade.
*Conflito diante de estados emocionais: A criança ao se deparar com angústias, incertezas, indagações, quadros nebulosos e similares; na sua inquietude, para evitar revelar-se, acaba utilizando-se da mentira.
*Sutileza Social: Com o intuito de não desagradar às pessoas, diante de algo que recebe e não gosta; na avaliação da aparência de terceiros, exposição de trabalhos, serviços prestados, imóveis, veículos em apreciação. A criança, por uma lógica social, utiliza-se da mentira sutil.
*A habilidade de entender as perspectivas dos outros: Por lógica mental inerente, a criança entende as perspectivas dos outros; no que a outra pessoa acredita e sabe de maneira estratégica adaptar a falta de verdade para ser plausível. Não significando que ao mentir, que é um recurso que utiliza para comunicar-se, esteja no pleno domínio do que está fazendo.
*Considerável grau de inteligência, competências, habilidades e capacidade de observação precoce: No afã de avançar e aplicar estes dons e talentos visualizam facilidades resolutivas ao contar mentiras plausíveis.
*Noção de valores: A criança já adquiriu noções de valores sociais e sabe exatamente a diferença da verdade e da mentira. Mente por temer repreensões e castigos, para fugir das suas responsabilidades, chamar a atenção dos pais ou melhorar a autoestima. Broncas severas, interrogatórios insistentes e pressão.
com gritos ou castigos levam a criança mentir mais vezes para não receber novamente esse tipo de punição.
*Por influencia de colegas e amigos: O amigo, ou o colega mentem e aí a criança  passa a mentir também.
*Para evitar uma punição: O castigo desagrada, se a criança fez algo que sabe que é reprovável pelos pais ou responsáveis ela facilmente mentirá dizendo que foi outra pessoa para não ser punida.
*Para ser aceita no seu meio social: Crianças e adolescentes falam mentira para serem aceitos por seus colegas.
*Por vários motivos: As crianças mentem por medo, por hábito criado pela prática constante, pela necessidade de chamar a atenção para si, para proteger os amigos, impressionar os amigos, os professores, a necessidade de fortalecer uma autoimagem pobre, uma maneira de levar vantagem em uma situação, evitar a culpa, exercer domínio sobre os outros, testar os limites dos adultos, punir os adultos.
2-DIAGNÓSTICO DA MENTIRA INFANTIL:
*As crianças começam a mentir, algumas antes dos 2 ou 3 anos. Ao chegar aos 4, a maioria diz mentiras ocasionais e isso se desenvolve mais ou menos ao mesmo tempo que outros sinais cognitivos.
*Existe um período no qual mentir é normal, durante toda a existência de cada indivíduo. No mínimo sete mentiras por dia. A maioria pequenas mentiras. O que não é normal é mentir cronicamente e, quando chega aos 10 anos, a maioria das crianças mente desse modo. As crianças bem novas mentem mais indiscriminadamente, negando práticas, porque já sabem o que podem ou não fazer.
*As crianças inteligentes tendem a mentir mais cedo, contando mentiras plausíveis. Porque a criança está começando a desenvolver suas habilidades cognitivas, vitais para o crescimento futuro. A própria mentira é o resultado inicial de um desenvolvimento.
*A criança permeia Mentira com Fantasia. Fantasiar é brincar de faz de conta, e isso é uma parte muito rica da existência imaginativa; as crianças aprendem sobre o mundo e são incentivadas à criatividade.
*As crianças de até cinco anos de idade não conseguem separar a fantasia do real. A imaginação faz parte do desenvolvimento normal da criança e é base para o pensamento lógico que o adulto tem. Com o passar dos anos, a fantasia dá lugar à noção de realidade, sem desaparecer totalmente.
*A mentira torna-se intencional a partir dos sete anos.
*A criança deve sentir que ao contar a verdade terá a admiração dos pais, professores e amigos e que a mentira logo será descoberta e desaprovada pelos mesmos.
*A mentira infantil, fora do enfoque de um procedimento reprovável, pode denotar a demonstração da capacidade de planejar, inventar, arquitetar um pensamento.
*No período da primeira infância, de 0 a 6 anos, a linha que separa a realidade da fantasia é muito tênue.
*Mentir a partir dos dois anos de idade sinaliza o desenvolvimento rápido do cérebro e  a propensão  de uma existência bem sucedida,  porque a criança manipula informações para a sua vantagem. Essa capacidade está ligada ao desenvolvimento das regiões do cérebro que permitem que as funções executivas aflorem o que fará dessa criança um grande empreendedor no futuro. Não há ligação entre contar mentiras na infância e se tornar um fraudador na existência adulta.
*As crianças mentem de forma a esconder os seus rastros; se as crianças e jovens dizem uma coisa, mas acabam fazendo outra estão mentindo. A observação do comportamento ajuda a decifrar se suas intenções e atos são verdadeiros ou falsos. De vez em quando ao checar os lugares que a criança diz estar, é uma forma de verificar se ela fala a verdade ou se cria álibis; ou conversar com amigos e parentes e ouvir as histórias que a criança conta. Observar a expressão facial, se a criança se afasta do seu interlocutor enquanto fala, sentindo-se desconfortável; virando o rosto ou o corpo, demonstra que está escondendo algo. Se ela sorri, mas tem um olhar triste; se quando responde murmura, está evitando dizer a verdade; se a criança foge do assunto, não responde diretamente, está tentando evitar a verdade; se responde com a pergunta, está tentando ganhar tempo para inventar uma resposta; se responde com sarcasmo, com muito humor, está tentando esconder algo.
*No caso dos mentirosos contumazes as reações fisionômicas ou posturais serão menos perceptíveis, em função da prática reiterada; que se incorpora no indivíduo como se isto é normal e legítimo. Pois, eles se sentem tão bem com as mentiras que se tornam um ato natural para eles.
*As maiorias das crianças durante a fase do seu desenvolvimento mentem. Todavia, no processo de maturação, de acordo com as orientações recebidas de seus familiares podem aprender que mentir não é a melhor solução; que a verdade é benéfica sempre e quem diz a verdade não merece castigo. Assim as crianças aprendem a enfrentar seus erros, a lutar por seus desejos sem precisar da mentira como instrumento de manipulação para conseguirem o que desejam. Dessa forma, a mentira passa por elas, e com o tempo desaparecem das suas existências. Existem casos mais graves de crianças que desenvolvem a síndrome do mentir patológico que é um transtorno de personalidade muito comum. O mentiroso patológico irá mentir sobre qualquer coisa para se sentir mais feliz e tornar sua vida mais interessante. Ele mente sobre o que comeu no almoço, sobre o que aconteceu na escola, no clube, na rua, enfim, ele mente sobre tudo. Essas crianças e jovens,  não tem autoestima, são narcisistas, sentem necessidade de mentir sobre o que são, sobre o que fazem, pensam e desejam. Os pais devem observar se as mentiras nos filhos são recorrentes e frequentes, o que seria um bom motivo para se preocupar, pois se a mentira se sustenta após os dez anos de idade e se a criança mente sobre tudo e todos deve ser encaminhada para um especialista na tentativa de evitar que se forme um mentiroso patológico.
*As crianças aprendem que a mentira é uma possibilidade real de se conseguir o que se quer, quer seja escapar de uma tarefa, de uma viagem, ou ainda conseguir impressionar uma garota e conquistá-la, ou os amigos mentindo sobre sua situação econômica, alegando que viajou para lugares exóticos, para ganhar respeito ou status. Pode ser ainda uma forma de se sentir no controle, evitar ser incomodado com perguntas para proteger a sua privacidade, depende da faixa etária, isso é mais comum com os adolescentes, que muitas vezes também dizem meias verdades para tentar ganhar independência. Outros jovens recorrem à mentira para driblar os adultos autoritários, por terem o desejo de experimentar e descobrir coisas por si mesmos. As crianças são educadas para serem ao mesmo tempo honestas e educadas. Só que, para serem educadas, precisam às vezes esconder seus verdadeiros sentimentos e opiniões sobre os outros.
*As crianças de 3 anos são sinceras ao criticar ou elogiar, independente de estarem sozinhas ou em presença de alguém. As de 5 e 6 anos elogiam mais quando avaliam alguém que está presente. Isso mostra que, com 5 e 6 de idade, as crianças já têm a habilidade social de esconder suas opiniões para agradar o outro.  Quanto mais idade, a criança mais mente. Até os 10 anos, as crianças avaliam o certo e o errado conforme as regras dadas por figuras de autoridade. A partir dos 10 anos e ao longo da adolescência; em vez de se focar nas regras dadas por uma autoridade, a criança passa a levar mais em consideração as intenções da outra pessoa, revelando a prática da empatia relativamente consciente do seu conceito etimológico, semântico e vernacular.
*A criança toma consciência de que está mentindo depois que percebe o quanto as pessoas ficam chateadas quando descobrem a verdade. Frequentemente, as crianças são obrigadas a mentir pelos seus próprios pais, quase de forma inconsciente dão certas ordens e comandos que implicam em mentira, para acomodar situações sociais.
*Quando a criança mente, costuma acreditar em si mesma. Ela tece em torno do comportamento uma fantasia que lhe seja aceitável. A fantasia torna-se um meio de expressar as coisas que ela tem dificuldade em admitir como realidade. É preciso levar a sério as fantasias da criança. Muitos não ouvem, não entendem ou não aceitam a maneira como elas expressam seus sentimentos. Assim a criança passa a não aceitar a si própria, e precisa recorrer á fantasia e subsequentemente à mentira. É preciso conhecê-la, ouvi-la, entendê-la e aceitá-la. Os sentimentos de criança são sua própria essência. Refletindo-lhe seus sentimentos, ela também passará a conhecê-los e aceitá-los. Só então a mentira pode ser vista realisticamente pelo que ela é: Um comportamento do qual a criança faz uso para sua sobrevivência. As crianças constroem um mundo de fantasia porque julgam seu mundo real difícil de viver. Tem uma porção de fantasias de coisas que jamais aconteceram realmente. No entanto tais fantasias são muito reais para essas crianças, e amiúde são mantidas dentro, fazendo com que às vezes elas se comportem de maneiras inexplicáveis. Essas fantasias reais-imaginadas com frequência despertam sentimentos de medo e ansiedade; elas precisam ser trazidas a luz para serem lidas e terem fim. Muitos adultos ainda vivem uma realidade imaginaria, de fantasia e mentira, forjam um mundo menos difícil de viver. E tudo começou quando criança. Ela precisava falar e não tinha quem ouvisse.
* A mentira é um sinal de que a criança já percebe que pensa e sente coisas de que ninguém tem conhecimento. Os pais precisam ficar atentos e ensinar o valor da honestidade. À medida que as mentiras vão aparecendo, também surgem as chances de se mostrar que faltar com a verdade tem consequências diversas.
3-MANEJO DA INCIDÊNCIA E INTENSIDADE DA PRÁTICA DA MENTIRA PELA CRIANÇA:
*Os pais devem falar com a criança sobre a importância de dizer a verdade e lidar com esse comportamento mentiroso. É importante também explicar que algumas vezes outras pessoas mentem, mas que isso não torna a mentira um comportamento aceitável.
*Mesmo que a criança ainda não saiba diferenciar a fantasia do real, desde pequena os pais devem lhe mostrar o que é mentira e o que é fantasia.
*Se a criança na fase pré-escolar traz um material estranho e diz que ganhou, deve ser confirmado se a história é real. Se não, diga à criança que aquilo não é seu e que não lhe foi dado, fazendo-a devolver. A criança inventou a história, mas ainda não sabe distinguir o real da fantasia, mas a verdade precisa ser mostrada.
*Deve-se tomar cuidado para que a mentira não esteja presente em casa. Há muitas mentiras que podem ser banidas. Como pedir para o filho falar que os pais não estão,  para não atender o telefonema ou visitas, sendo que nem saiu de casa. Parecem inofensivas as pequenas mentiras, mas é a partir delas que a criança começa a desenvolver a habilidade para mentir. Vendo os seus pais mentindo na maior naturalidade, sem nenhuma punição. E eles sempre que mentem são punidos.
*No caso de repetição das mesmas mentiras, os cuidadores devem conversar com a criança mostrando que ela errou repetidas
vezes. E estipular uma punição para cada erro. Além de ressaltar a importância de assumir seus erros. Os valores estão sendo implantados na criança, nesta fase, então devem ser reforçados, destacando a importância da verdade.
 *No caso de excessiva quantidade de mentiras deve-se procurar uma ajuda profissional: pediatra, psicólogo, professor ou pedagogo; tomando cuidado para não confundir fantasia com mentira. Faz parte do desenvolvimento humano o fantasiar.
*O exemplo é a melhor solução contra a mentira. As palavras movem, mas os exemplos arrastam. Sendo o mais honesto, sincero, amigo, companheiro e verdadeiro com os filhos e terá a confiança deles para serem o que realmente são e poderem falar tudo sem medo de ter uma punição descabida ou um julgamento desnecessário.
*Repreender a criança por algum comportamento ou fala, sem procurar entender o que ela está querendo dizer, é desperdiçar uma chance de se aproximar da criança e ganhar a confiança dela e de ensiná-la como agir.
*Ao se deparar com uma mentira, verificar se a motivação da criança foi tentar escapar de alguma responsabilidade ou se ocorreu pela falta da compreensão em relação à situação. Ser claro ao definir regras. Ao reincidir na mentira, a criança pode estar agindo dessa maneira por não entender a importância do que foi pedido. Se os pais proíbem certos procedimentos e ela desobedece, verificar se ela entende claramente os riscos que corre ao agir assim. A confiança na família se estabelece quando uns escutam os outros e percebem que podem contar com o apoio mútuo, mesmo quando erram. Descobrir a causa do comportamento da criança, expor a ela as consequências da mentira e mostrar a verdade são fundamentais para a sua formação. Na hora em que a falha é descoberta, o importante é ouvir a criança e não criticar ou puni-la até que se entenda qual a motivação dela. Ao se deparar com uma mentira, verificar se a motivação da criança foi tentar escapar de alguma responsabilidade ou se ocorreu pela falta da compreensão em relação à situação. Ser claro ao definir regras. Ao reincidir na mentira, a criança pode estar agindo dessa maneira por não entender a importância do que foi pedido. Se os pais proíbem certos procedimentos e ela desobedece, verificar se ela entende claramente os riscos que corre ao agir assim. A confiança na família se estabelece quando uns escutam os outros e percebem que podem contar com o apoio mútuo, mesmo quando erram. Descobrir a causa do comportamento da criança, expor a ela as consequências da mentira e mostrar a verdade são fundamentais para a sua formação. Na hora em que a falha é descoberta, o importante é ouvir a criança e não criticar ou puni-la até que se entenda qual a motivação dela.
       4-CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A MENTIRA:
       *Os adultos mentem 40 vezes por dia em média.
*A mentira tem um aspecto cultural. Todo ser humano não falará a verdade sempre, pois ser sincero demais pode gerar situações desagradáveis. São as mentiras, culturalmente permitidas, mas são mentiras. As crianças são rigorosamente sinceras, no que se refere ao fato de tecer alguma consideração sobre que lhes é submetido à avaliação.
*Qualquer pessoa mente, tem que se distinguir a mentira banal da mentira psicopática. O psicopata utiliza a mentira como uma ferramenta de trabalho; está tão treinado e habilitado a mentir que é difícil captar quando mente, olhando nos olhos e com atitude completamente neutra e relaxada. O psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para conseguir safar-se de alguma situação. Ele sabe que está mentindo, não se importa, não tem vergonha ou arrependimento, mente sem nenhuma justificativa ou motivo; o psicopata diz o que convém e o que se espera para aquela circunstância. Ele pode mentir com a palavra ou com o corpo, quando simula e teatraliza situações vantajosas para ele, podendo fazer-se arrependido, ofendido, magoado, simulando tentativas de suicídio, essa mentira não tem culpa. A personalidade do psicopata é narcisística, quer ser admirado, quer ser o mais rico, mais bonito, melhor vestido. Assim, ele tenta adaptar a realidade à sua imaginação, a seu personagem do momento, de acordo com a circunstância e com a sua personalidade. Esse indivíduo pode converter-se no personagem que sua imaginação cria como adequada para atuar no meio com sucesso, propondo a todos a sensação de que estão, de fato, em frente a um personagem verdadeiro.
*Ninguém nasce sabendo mentir. Esse é um comportamento aprendido, que vem a partir da convivência com outras pessoas, quando percebemos que o que falamos ou fazemos tem consequências.  
*A Mentira Leve faz referência às mentiras que a maioria das pessoas conta para melhorar o relacionamento social, para evitar conflitos e ofensas, socialmente aceito, destinado a manter a harmonia dos relacionamentos. Como algo banal.
“Todos mentem; não há quem não minta. Portanto, não há ser humano veraz. No império da mentira vicejam muitos males. Mas, dia virá em que a Terra toda será habitada, somente, por: justos, puros, verdadeiros, perfeitos e Santos humanos! (EM).”















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