COMO SURGIU A IDÉIA DE CORAÇÃO=MENTE
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Indaga-se de quando e como surgiu o hábito de
referenciar o coração, como sendo a mente humana? Inclusive no texto bíblico há
ocorrência desta prática.
Tem-se o
coração como símbolo do afeto, do amor, dos sentimentos mais profundos e do
caráter de uma pessoa, o coração, desde antigamente, é na imaginação das pessoas, é
onde são guardadas as emoções, sentimentos, crenças e pensamentos. Centro
misterioso das emoções humanas, concentração da força e a sabedoria. Os demais
órgãos funcionam silenciosamente, o coração pulsa, e manifesta a sua presença
e, um dos primeiros órgãos do que o homem teve consciência. Associando o
coração aos sentimentos e emoções que alternava o seu ritmo normal: amor, medo,
susto, sensações marcantes e intensas de momentos especiais. Correlacionado ao
estado da alma, à afeição e à generosidade.
A concepção grega:
Indagações fundamentais relacionadas à
natureza da mente humana permanecem ainda sem respostas convincentes. Desde os
primórdios em diferentes civilizações antigas, como Egito, Mesopotâmia, Índia e
China, a cultura que deixou marcas ainda presentes é a civilização grega. A base
de todo pensamento ocidental moderno encontra suas origens nesta civilização. Diversos
conceitos da neurociência moderna têm alguma origem nas especulações elaboradas
pelos antigos filósofos e médicos gregos. A partir desta civilização surgiram
observações sistemáticas sobre a estrutura e funcionamento do corpo, da mente e
a sua relação.
Homero o poeta grego,
estabelecia relação entre o corpo e a mente e os conceitos de saúde e
enfermidade. Termos utilizados por Homero para se referir à vida mental do
homem: coração ( kradie, ker e etor), referindo-se
ao órgão físico e aos sentimentos e afetos. Onde os sentimentos se
manifestariam, não havendo distinção entre o processo psíquico e o órgão físico
em si. Termo thymos, referindo-se ao estado de ânimo do sujeito. Termo
relacionado com a vida psíquica: phren ou phrenes,
associado ao intelecto e ao pensamento em ação. Phren tomado como "mente", referente à relação
entre determinado conhecimento e a ação decorrente do pensamento e, também um
caráter ético, "juízo" ou "julgamento". Termo noos
se referia ao ato de pensar de maneira abstrata, razão, discernimento e inteligência. Termo psyché, associado
com a respiração. No momento da morte e da perda da consciência, a psyché sairia
pela boca, como um suspiro, abandonaria o corpo vagando pelas regiões sombrias
do Hades.
Através da Filosofia (phýsis), baseada essencialmente em causas naturais, os
gregos observavam os fenômenos de maneira ampla, na tentativa de identificar o
princípio ordenador da natureza (arkhé). Onde o homem é compreendido
como parte da natureza universal e, sujeito aos mesmos princípios os quais
regeriam os fenômenos físicos. Com a filosofia ocorrem as primeiras tentativas de interpretar
o fenômeno natural de maneira racional, possibilitando a exploração de
diferentes aspectos biológicos e psicológicos.
Anaxímenes considerava que a
fonte do pensamento humano seria o ar, elemento básico tanto do
mundo físico quanto do psicológico. Considerava que a respiração e o ar
compreendem o mundo todo.
Diógenes de Apolônia, atribuía
ao ar a capacidade de produzir pensamentos, sensações e vida.
O intelecto se manifestaria quando o ar, misturado com o sangue,
percorresse todo o corpo através das veias. Considerava o cérebro a sede do
intelecto. Quando o ar era respirado, este iria diretamente para o cérebro,
deixando lá suas melhores partes.
Empédocles de Agrigento, considerava
que a natureza era composta por quatro elementos primordiais: a água,
o fogo, a terra e o ar. E dois princípios cosmogônicos: a Amor e
o Ódio. O Amor seria responsável em promover a
união entre os elementos primordiais, enquanto o Ódio, a separação
deles. A percepção aconteceria devido aos poros sensoriais serem capazes de
captar as emanações dos quatro elementos primordiais feitas pelos objetos, com
base na atração dos semelhantes. Considerava o sangue importante na produção
dos pensamentos. Que a intelectualidade seria produzida pelo sangue, concentrado
na região do coração.
Alcmeon de Crotona, entendia
o cérebro como sede da razão e centro de todas as sensações, como filósofo e
médico. A mente humana seria criada pelo cérebro, sede da sensação e da
cognição e as diferenças entre os animais e os seres humanos, afirmando que
estes capazes de compreender, os animais de apenas perceber. Discutiu os
sentidos, propondo a existência de canais sensoriais (poroi) que
levariam as sensações até o cérebro. Afirmou a existência de dois poroi os
quais conectariam os olhos ao cérebro os nervos ópticos. Propôs a doutrina
médica sobre a relação entre saúde e doença, os pares de potências opostas (dýnamis):
úmido e seco, frio e quente, amargo e doce; que quando misturados de forma
equilibrada (isonomia) no interior do corpo humano, proporcionam ao
sujeito o estado de saúde; a perda desse equilíbrio a enfermidade.
Teofrasto: todos os sentidos estão, de alguma forma, ligados ao
cérebro. Tornam-se incapacitados se o cérebro for movido ou tirado de posição;
porque tal obstrui as passagens através das quais operam os sentidos.
Hipócrates: propõe que o corpo
é composto por quatro humores: sangue, flegma, bile
amarela e bile negra. A saúde associada com a perfeita
justa proporção destes humores, tanto qualitativa quanto
quantitativamente. A doença resulta do isolamento de um dos humores em
alguma região do corpo, desequilibrando seu funcionamento. Adepto à tese
cefalocentrista de um cérebro como sede
das diversas funções mentais.
Aristóteles admitia que o coração era fonte de sensações, como fonte de
calor, aí estaria a origem das sensações (dor, prazer, desejo e outras reações
emocionais), daí a palpitação que aparece nas comoções. Uma visão
cardiocentrista, o coração como a sede do intelecto.
Platão era cefalocentrista.
Outras concepções:
Nas culturas mais antigas o coração se encontrava ligado às situações de cunho
emocional, pois não conhecerem a função do cérebro e o coração era o único órgão
cujo funcionamento variava de acordo com as emoções. O “coração” é um vocábulo do
latim cor, cordis, que gera expressões como: cordial, acordar, discordar,
recordar, recurso, coragem e misericórdia. Do grego kardia, gerando: cardíaco,
cardiograma, endocárdio, pericárdio e outros termos médicos.
A palavra “mente” vem do latim mente, (
mens), “espírito”, “intelecto”, “pensamento”, “entendimento”. Mente é o estado
da consciência ou subconsciência, relativo ao conjunto de pensamentos. O
cérebro é a estrutura física, o pouco mais de 1 quilo de tecido biológico
dentro da cabeça. A mente é o resultado do funcionamento do cérebro: os
pensamentos, os sentimentos e as emoções. É o sistema total dos processos
mentais ou atividades psíquicas de um indivíduo.
Caracterização científica do coração:
A
inervação do coração é feita pelo sistema nervoso autônomo (SNA), cujas fibras
fazem parte de dois tipos de neurônios que se sinaptam (contatam) num gânglio;
as fibras (axônios) dos pós-ganglionares inervam os órgãos. No coração, as
fibras pós-ganglionares da divisão (orto) simpática do SNA liberam
nor-adrenalina, que aumenta a freqüência cardíaca; as da divisão parassimpática
(vagais) liberam acetilcolina, que diminui essa freqüência. O coração está
sujeito, à nor-adrenalina (e adrenalina) de descarga das glândulas
suprarrenais, cuja medula é, filogeneticamente, uma região ganglionar, pois
recebe fibras pré-ganglionares regulares. Numa situação de emergência —
(atenção ou emoção diante de um evento, preparação para perseguição ou fuga) —
essas glândulas liberam grandes quantidades de adrenalina, para designar um
episódio sensacional que nos deixa em suspense. Essa adrenalina liberada é um
importante componente da chamada "Reação de Alarme" que predispõe o
organismo a enfrentar uma situação adversa; aumenta os batimentos cardíacos e,
conseqüentemente, melhora a circulação para os músculos encarregados da resposta
motora a essa situação.
Compreende-se,
assim, que numa violenta emoção possa ocorrer grande liberação de adrenalina,
com possíveis efeitos danosos para o coração, emoções ou a necessidade de um
estado de alerta repercutem na atividade do SNA, É que os corpos celulares dos
neurônios pré-ganglionares se situam no sistema nervoso central (SNC) e aí
estabelecem conexões com importantes centros encefálicos no chamado sistema
límbico, cujos componentes formam um complexo interligado, que inclui
importantíssimos núcleos (como o hipocampo e a amígdala) e em meio do qual se
situa o hipotálamo. Esses núcleos conectam-se com o córtex cerebral e, neste,
nenhuma sensação gerada se sustenta ou adquire significado se a informação
causadora não chegar simultaneamente a tais núcleos. Assim, o sistema límbico é
como um computador que processa a informação sensorial, integra-a e dá-lhe
colorido emocional. O hipotálamo é o seu elo com o SNA. As fibras
pré-ganglionares do sistema parassimpático pertencem ao X par de nervos
cranianos (vago ou pneumogástrico) e se sinaptam com as pós-ganglionares
(curtas) nas imediações dos próprios órgãos que inervam.
Metáfora:
O coração é associado, metamoforicamente
ao cérebro, segundo o seu condicionamento pelo sistema autônomo
dos vários tipos de sentimentos e emoções.
Vulgarmente se afirma que o coração
"sofre" com as circunstâncias adversas e "enche-se de alegria"
com os eventos prazerosos. Daí surgiram adjetivos como cordial, cordato para
indicar a pessoa amável ou de acordo com algo sugerido ou proposto.
Como o ser humano é capaz de pensar
racional e/ou fantasiosamente, o que lhe faculta analisar criticamente ou crer
piamente nos mitos que lhe são incutidos desde a infância ou decorrentes da
tradição das comunidades em que vive. Vai continuar, como adulto, a crer ou
fingir que crê, porque lhe apraz ou o atemoriza, no relato de lendas e
histórias que desafiam a lógica comum. O caso das razões do coração encaixa-se
entre os mitos gerados em eras remotas e persistentes no seio de uma comunidade.
Como a ilusão é um fator de
sobrevivência, acreditam nas razões do coração, tomando as conseqüências da
estimulação nervosa (palpitações, arritmias, variação na freqüência de
batimentos), como manifestações de júbilo ou tristeza do próprio órgão. Metaforicamente
pode ser considerado como a sede dos sentimentos, das emoções, e da consciência.
Anatomicamente o coração é um músculo oco, é o órgão central do sistema
circulatório, responsável pelo percurso do sangue bombeado através de todo
organismo.
Conclusão:
O
cérebro é o centro das emoções, sentimentos, pensamentos e todo o tipo de
sensação. Quando se refere ao coração como centro de emoções, é só por uma
questão de figura de linguagem e por associação com as suas funções orgânicas,
metaforicamente.
“Aquele que é bom já nasce com esta
qualidade; todavia, que não tem cultura só postura aquilo que tem dentro; nem
título acadêmico o transforma. (EM).”
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