A CONSTRUÇÃO DOS
PENSAMENTOS
E-mail: ernidiomigliorini@gmail.com
Nós não construímos os nossos
pensamentos simplesmente porque queremos, ou na hora em que decidimos fazê-lo.
O gatilho
da memória é um sistema de suma importância para o cérebro. Ele faz com que consigamos
interpretar todos os estímulos que nós recebemos. Todas as informações são
identificadas pelo gatilho da memória. Sem ele não iriamos conseguir reconhecer nada! Isso
acontece porque ele identifica os estímulos e compara a bilhões de imagens que
temos armazenadas no nosso banco de dados. Dessa maneira, acabamos reconhecendo
as pessoas e lugares.
Ele pode
vir a nos prejudicar quando busca arquivos doentios, que acabam ficando
guardados na memória, arquivos como a insegurança, o medo, a dor… E quando
esses arquivos acabam sendo tocados, podem nos levar a ansiedade, a depressão,
a fobias, entre outras doenças emocionais.
O
Autofluxo gera, todos os dias, milhares de pensamentos nos levando,
literalmente, para um mundo repleto de pensamentos. Sem ele teríamos tédio, sentimentos
de angústia… uma existência toda sem distrações, sem criatividade, sem ideias!
O problema é que, atualmente, com a quantidade de pensamentos de baixa
qualidade, esse mecanismo se tornou uma fonte de preocupações, de medo,
de ansiedade e isso atrapalha.
A janela da memória nos dá a sensação
de estar feliz e do nada ficar triste sem saber porque? Ou
ter a sensação de conhecer um lugar que nunca pisou? Esse é o papel da janela
da memória. Ela é o banco de dados no qual o gatilho da memória vai buscar as
informações que precisa.
A nossa mente
é um grande receptáculo e cada um dos seus compartimentos uma janela da memória. Cada um deles contém milhões de
informações. Algumas dessas informações são boas e vão causar sentimentos de
prazer e de felicidade. Contudo, outras irão causar medo, raiva, sentimentos e pensamentos negativos.
Quando algo de
negativo acontecer conosco, isto irá para a memória. Diante de uma
circunstância semelhante isto tocará novamente a nossa memória, preventivamente.
Podemos ficar remoendo o que aconteceu,
e ficar pensando e pensando naquilo, e começa a preocupar, pensando será que
vai acontecer novamente?
A
existência humana tem ganhos e perdas, que fazem parte inevitável do processo e
impõem um preparo psicológico para avançar a despeito dos inconvenientes
existenciais.
A
construção do pensamento faz o ser humano se tornar um ser pensante, um ser
inteligente, um ser que tem consciência de si mesmo e do outro que o circunda. O nosso estado emocional, como estamos, em um dado momento existencial,
determina a quantidade e a qualidade das janelas abertas. A partir da qualidade
das emoções, propicia-se um aumento da capacidade intelectual. É preciso abrir
as fronteiras de conflito para que se possa ter acesso a outras janelas e fazer
com que nos tornemos protagonistas da nossa própria historia.
O ambiente
da memória, o que somos está em continuo processo evolutivo, por isso a
personalidade esta sempre em um processo de evolução. Quanto mais informações
forem incorporadas, mais se expandira a base da memória, propiciando quantidade
e qualidade na cadeia de pensamento.
O ambiente
social é capaz de influenciar a construção do pensamento e de interferir no
estado emocional e no grau de abertura das janelas da memória e
consequentemente na construção da cadeia de pensamentos.
Sendo ser biopsicossocial o ser
humano além de sofrer interferências do
estado emocional, da memória intrapsíquica e do ambiente social na produção do
pensamento, ele sofre, ainda, interferências do ambiente metabólico cerebral,
este interfere no processo de construção do pensamento devido a deficiência de
neurotransmissores (serotonina), levando a depressão e outros processos
metabólicos. Podendo impossibilitar a correção de rotas levando a erros
repetitivos e dificultando o processo de construção de pensamentos.
Um mesmo observador diante de um mesmo objeto
pode ter interpretações distintas em dois momentos distintos, isto acontece
devido à variação do ambiente. Portanto, nos bastidores da mente humana, o
processo de interpretação sofre influencia de várias variáveis, que nos leva a
produzir pensamentos distintos diante dos mesmos estímulos e objetos.
Somos micro e macro distintos a cada
momento existencial. Pensar é o que nos torna humanos. É o que faz de nós os
únicos capazes de transformar o ambiente. Aos outros seres vivos resta a
submissão às condições que se apresentam. Pensar é abstrair, organizar e cruzar
diferentes conceitos, criando algo novo, mesmo que esse algo seja apenas uma
ideia, mesmo que não se materialize ou que não tenha qualquer ligação com o
mundo real. Pensar é transformar.
Ao
contrário do que parece, não nascemos dotados da habilidade do pensamento.
Quando bebês, apenas repetimos e imitamos. Quem repete ou imita não transforma,
logo não está pensando. O que não significa que a mente do bebê não está em
uso. Porém, seu uso é parcial, talvez em função da estrutura biológica ainda
estar em formação. Contudo, imitação não pode ser confundida pensamento. É
importante fazer a distinção entre uma atividade mental qualquer e o
pensamento. O primeiro não exige consciência e autonomia, já o segundo sim.
O processo
de imitação contínuo constrói uma enorme memória, que incluem ideias,
sentimentos, experiências e inteligência motora. Cada estímulo captado através
dos sentidos dá início a um cruzamento de dados gigantesco, complexo e
incrivelmente veloz. Então, a resposta ao estímulo deixa de ser uma imitação
simples e passa ser imprevisível.
A mente da
criança já é capaz de pensar, porém necessita de estímulos. Se analisarmos,
poucas interações dão a oportunidade para a criança buscar respostas mais
profundas e complexas, cruzar ideias de sua memória e ter a oportunidade de
encontrar algo novo, transformar dados em inteligência e romper o impulso de
simplesmente devolver o que já foi previamente vivenciado e aceito pela
sociedade. A cobrança por agilidade nas respostas condiciona a mente ainda em
desenvolvimento a responder com a primeira ideia coletada.
Quando adolescentes, continuamos imitando, mas dessa vez incluem-se no
repertório de memórias as interações com os amigos e aspectos culturais e
sociais. Ainda nessa fase, costuma ocorrer o primeiro estágio da construção do
pensamento independente, quando o indivíduo percebe que a forma de pensar de
seus familiares é insuficiente para lidar com o contexto de sua existência.
No início
da fase adulta, outra etapa da construção do pensamento independente pode
surgir, quando o indivíduo percebe que a forma de pensar dos amigos e do grupo
de convívio também é insuficiente. Contudo, a tendência a imitar ainda existe.
Quando adultos, imitamos celebridades, professores, pessoas de sucesso, ideais
ou seguimos cegamente cartilhas de como conseguir as coisas. É assim que se
forma a cultura de uma sociedade e os preconceitos, através de memórias
acumuladas e não refletidas.
O processo
de imitação se mantém ao longo da vida. Trata-se de um método primário de
aprendizado, rápido, simples e fácil. A imitação é natural. Imitar é tão
instintivo quanto respirar, comer, beber, gritar. Por outro lado, pensar
poderia ser comparado a andar, correr, ler, escrever, dançar, cantar. São dons
naturais que precisam de desenvolvimento.
Em alguns
poucos momentos somos capazes de pensar por nós mesmos, de modo independente, e
tocar com a mente algo realmente novo. Na maior parte do tempo, apenas
devolvemos ao mundo ideias de terceiros, com leves adaptações ao contexto. Pensar
requer liberdade e autoquestionamento. Liberdade para não se deixar reprimir e
permitir que as ideias fluam até os limites da imaginação. Autoquestionamento
para transcender os próprios preconceitos e tabus. Portanto, o verdadeiro
pensamento só pode ser livre e independente. Este é o pensamento independente.
O
desenvolvimento do pensamento independente é fundamental para que seja atingido
algum nível de satisfação pessoal. Quem não pensa de forma independente, busca
a felicidade seguindo fórmulas, receitas aprendidas. Como dito, o verdadeiro
pensamento independente é um dom, mas não é natural. Ele precisa ser construído
ao longo da vida. Pode-se dividir esse processo em alguns estágios. Cada
estágio é subdividido em duas fases: rebeldia e reconciliação. Liberdade da
família – questionam-se as ideias dos pais e da família. Geralmente ocorre na
adolescência. Liberdade do grupo – questionam-se as ideias dos amigos e pessoas
próximas. Geralmente ocorre no início da vida adulta. Liberdade da cultura –
questiona-se os valores culturais, ideologias, religiões, preconceitos e
estrutura da sociedade. Liberdade do ego – questionam-se os próprios desejos,
hábitos, vícios, sentimentos reprimidos e conflitos internos.
Infelizmente,
desenvolvemos apenas parcialmente nosso pensar. O que nos move? Como fazer
valer nossos esforços? Algumas atividades nos dão o sentimento de realização,
nos deixam cheios de energia e vitalidade.
“A mente
sempre será assunto para os estudos mais profundos; por ela existimos e agimos.
(EM).”
Nenhum comentário:
Postar um comentário