sábado, 29 de fevereiro de 2020

A CONSTRUÇÃO DOS PENSAMENTOS


A CONSTRUÇÃO DOS PENSAMENTOS
E-mail: ernidiomigliorini@gmail.com
Nós não construímos os nossos pensamentos simplesmente porque queremos, ou na hora em que decidimos fazê-lo.
O gatilho da memória é um sistema de suma importância para o cérebro. Ele faz com que consigamos interpretar todos os estímulos que nós recebemos. Todas as informações são identificadas pelo gatilho da memória. Sem ele  não iriamos conseguir reconhecer nada! Isso acontece porque ele identifica os estímulos e compara a bilhões de imagens que temos armazenadas no nosso banco de dados. Dessa maneira, acabamos reconhecendo as pessoas e lugares.
Ele pode vir a nos prejudicar quando busca arquivos doentios, que acabam ficando guardados na memória, arquivos como a insegurança, o medo, a dor… E quando esses arquivos acabam sendo tocados, podem nos levar a ansiedade, a depressão, a fobias, entre outras doenças emocionais.
O Autofluxo gera, todos os dias, milhares de pensamentos nos levando, literalmente, para um mundo repleto de pensamentos. Sem ele teríamos tédio, sentimentos de angústia… uma existência toda sem distrações, sem criatividade, sem ideias! O problema é que, atualmente, com a quantidade de pensamentos de baixa qualidade, esse mecanismo se tornou uma fonte de preocupações, de medo, de ansiedade e isso  atrapalha.
A janela da memória nos dá a sensação de estar feliz e do nada ficar triste sem saber porque? Ou ter a sensação de conhecer um lugar que nunca pisou? Esse é o papel da janela da memória. Ela é o banco de dados no qual o gatilho da memória vai buscar as informações que precisa.
A nossa mente é um grande receptáculo e cada um dos seus compartimentos uma janela da  memória. Cada um deles contém milhões de informações. Algumas dessas informações são boas e vão causar sentimentos de prazer e de felicidade. Contudo, outras irão causar medo, raiva, sentimentos e pensamentos negativos.
Quando algo de negativo acontecer conosco, isto irá para a memória. Diante de uma circunstância semelhante isto tocará novamente a nossa memória, preventivamente. Podemos ficar remoendo o  que aconteceu, e ficar pensando e pensando naquilo, e começa a preocupar, pensando será que vai acontecer novamente?
A existência humana tem ganhos e perdas, que fazem parte inevitável do processo e impõem um preparo psicológico para avançar a despeito dos inconvenientes existenciais.
 A construção do pensamento faz o ser humano se tornar um ser pensante, um ser inteligente, um ser que tem consciência de si mesmo e do outro que o circunda.  O nosso estado emocional, como estamos, em um dado momento existencial, determina a quantidade e a qualidade das janelas abertas. A partir da qualidade das emoções, propicia-se um aumento da capacidade intelectual. É preciso abrir as fronteiras de conflito para que se possa ter acesso a outras janelas e fazer com que nos tornemos protagonistas da nossa própria historia.
O ambiente da memória, o que somos está em continuo processo evolutivo, por isso a personalidade esta sempre em um processo de evolução. Quanto mais informações forem incorporadas, mais se expandira a base da memória, propiciando quantidade e qualidade na cadeia de pensamento.
O ambiente social é capaz de influenciar a construção do pensamento e de interferir no estado emocional e no grau de abertura das janelas da memória e consequentemente na construção da cadeia de pensamentos.
 Sendo ser biopsicossocial o ser humano  além de sofrer interferências do estado emocional, da memória intrapsíquica e do ambiente social na produção do pensamento, ele sofre, ainda, interferências do ambiente metabólico cerebral, este interfere no processo de construção do pensamento devido a deficiência de neurotransmissores (serotonina), levando a depressão e outros processos metabólicos. Podendo impossibilitar a correção de rotas levando a erros repetitivos e dificultando o processo de construção de pensamentos.
 Um mesmo observador diante de um mesmo objeto pode ter interpretações distintas em dois momentos distintos, isto acontece devido à variação do ambiente. Portanto, nos bastidores da mente humana, o processo de interpretação sofre influencia de várias variáveis, que nos leva a produzir pensamentos distintos diante dos mesmos estímulos e objetos.
Somos micro e macro distintos a cada momento existencial. Pensar é o que nos torna humanos. É o que faz de nós os únicos capazes de transformar o ambiente. Aos outros seres vivos resta a submissão às condições que se apresentam. Pensar é abstrair, organizar e cruzar diferentes conceitos, criando algo novo, mesmo que esse algo seja apenas uma ideia, mesmo que não se materialize ou que não tenha qualquer ligação com o mundo real. Pensar é transformar.
Ao contrário do que parece, não nascemos dotados da habilidade do pensamento. Quando bebês, apenas repetimos e imitamos. Quem repete ou imita não transforma, logo não está pensando. O que não significa que a mente do bebê não está em uso. Porém, seu uso é parcial, talvez em função da estrutura biológica ainda estar em formação. Contudo, imitação não pode ser confundida pensamento. É importante fazer a distinção entre uma atividade mental qualquer e o pensamento. O primeiro não exige consciência e autonomia, já o segundo sim.
O processo de imitação contínuo constrói uma enorme memória, que incluem ideias, sentimentos, experiências e inteligência motora. Cada estímulo captado através dos sentidos dá início a um cruzamento de dados gigantesco, complexo e incrivelmente veloz. Então, a resposta ao estímulo deixa de ser uma imitação simples e passa ser imprevisível.
A mente da criança já é capaz de pensar, porém necessita de estímulos. Se analisarmos, poucas interações dão a oportunidade para a criança buscar respostas mais profundas e complexas, cruzar ideias de sua memória e ter a oportunidade de encontrar algo novo, transformar dados em inteligência e romper o impulso de simplesmente devolver o que já foi previamente vivenciado e aceito pela sociedade. A cobrança por agilidade nas respostas condiciona a mente ainda em desenvolvimento a responder com a primeira ideia coletada.
Quando adolescentes, continuamos imitando, mas dessa vez incluem-se no repertório de memórias as interações com os amigos e aspectos culturais e sociais. Ainda nessa fase, costuma ocorrer o primeiro estágio da construção do pensamento independente, quando o indivíduo percebe que a forma de pensar de seus familiares é insuficiente para lidar com o contexto de sua existência.
No início da fase adulta, outra etapa da construção do pensamento independente pode surgir, quando o indivíduo percebe que a forma de pensar dos amigos e do grupo de convívio também é insuficiente. Contudo, a tendência a imitar ainda existe. Quando adultos, imitamos celebridades, professores, pessoas de sucesso, ideais ou seguimos cegamente cartilhas de como conseguir as coisas. É assim que se forma a cultura de uma sociedade e os preconceitos, através de memórias acumuladas e não refletidas.
O processo de imitação se mantém ao longo da vida. Trata-se de um método primário de aprendizado, rápido, simples e fácil. A imitação é natural. Imitar é tão instintivo quanto respirar, comer, beber, gritar. Por outro lado, pensar poderia ser comparado a andar, correr, ler, escrever, dançar, cantar. São dons naturais que precisam de desenvolvimento.
Em alguns poucos momentos somos capazes de pensar por nós mesmos, de modo independente, e tocar com a mente algo realmente novo. Na maior parte do tempo, apenas devolvemos ao mundo ideias de terceiros, com leves adaptações ao contexto. Pensar requer liberdade e autoquestionamento. Liberdade para não se deixar reprimir e permitir que as ideias fluam até os limites da imaginação. Autoquestionamento para transcender os próprios preconceitos e tabus. Portanto, o verdadeiro pensamento só pode ser livre e independente. Este é o pensamento independente.
O desenvolvimento do pensamento independente é fundamental para que seja atingido algum nível de satisfação pessoal. Quem não pensa de forma independente, busca a felicidade seguindo fórmulas, receitas aprendidas. Como dito, o verdadeiro pensamento independente é um dom, mas não é natural. Ele precisa ser construído ao longo da vida. Pode-se dividir esse processo em alguns estágios. Cada estágio é subdividido em duas fases: rebeldia e reconciliação. Liberdade da família – questionam-se as ideias dos pais e da família. Geralmente ocorre na adolescência. Liberdade do grupo – questionam-se as ideias dos amigos e pessoas próximas. Geralmente ocorre no início da vida adulta. Liberdade da cultura – questiona-se os valores culturais, ideologias, religiões, preconceitos e estrutura da sociedade. Liberdade do ego – questionam-se os próprios desejos, hábitos, vícios, sentimentos reprimidos e conflitos internos.
Infelizmente, desenvolvemos apenas parcialmente nosso pensar. O que nos move? Como fazer valer nossos esforços? Algumas atividades nos dão o sentimento de realização, nos deixam cheios de energia e vitalidade.
“A mente sempre será assunto para os estudos mais profundos; por ela existimos e agimos. (EM).”


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