LUCIDEZ
A lucidez é
a fonte do discernimento. Todo o conhecimento humano é interpretação, a qual
pertence à estrutura do conhecer. A subjetividade tende para relativizar tudo e
significa a interioridade da consciência, oposta à exterioridade do mundo; mas
se forma pela relação com o exterior. Como sujeito de significação, de valores, de compreensões e
interpretações da realidade. O momento exige cada vez mais lucidez.
Cada posição
tem a sua perspectiva de visão e de ocultamento. Todo o ponto de vista é a
vista de um ponto. A lógica é denotar a conotação, isto é, tornar claro tudo o
que se esconde no que afirmamos,que é o nosso discurso.
É necessário assumir uma posição crítica, lúcida,
desentranhando os pressupostos, os interesses, as sutilezas dos movimentos
econômicos, políticos, sociais, culturais e religiosos em curso; alimentando a
consciência vigilante em meio à tanta perplexidade. Entre o catastrofismo
assustador e o otimismo lírico cabe a racionalidade sensata e lúcida.
A humanidade
recarrega-se de esperança em nome da reserva espiritual que ainda existe nas
pessoas. Todavia, a euforia ingênua, peca por irresponsabilidade grave e capitula
facilmente diante dos apelos consumistas, das maiorias mal intencionadas e do
“vale tudo”.
O cosmos, a
ordem da natureza, a espiritualidade, o Todo como a grande finalidade. O
espelho para a conduta adequada e para o verdadeiro desabrochar da essência
humana. A natureza guarda dentro de si o mistério da existência do ser humano.
É preciso desvendar o caminho a trilhar, os limites a assumir, incluindo os
passos da virtude. Deus traça os caminhos dos homens para a prática do bem. A
estes cabe seguir tais ensinamentos para a sua restauração à perfeição. O
sujeito moderno acha que assenhorou-se do cosmos e da natureza e constituiu-se
a si mesmo, como o último fundamento de todos os valores. A lucidez é a condução
para evitar estes extremos. Nem submissão mística e nem autonomia absoluta.
A natureza
carrega em si os traços da criação de ser transcendente e exige respeito e
acolhimento. A lucidez implica em desenvolvimento tecnológico, com capacidade
de transformação da realidade e sentido de limite de tais empreendimentos. Nem
fatalidade natural, nem egoísmo devastador. A destruição de valores e elementos
coletivos que fundamentam o convívio social; Não pode justificar certos
empreendimentos. A modernidade está perdendo a transcendência, base última dos
valores humanos e sociais. As coisas deixam de ser teocêntricas e
cosmocêntricas para se tornarem antropocêntricas, criando a era do vazio, de
ceticismo cínico e da descrença difusa. A lucidez pode encontrar o equilíbrio.
Os que habitam
no espaço da fé percebem as pegadas de Deus e a transcendência. A modernidade
centrada extremamente no sujeito provoca o efeito da conversão à felicidade
imediata e da negação do universal. Só com lucidez viver-se-á o presente com
realismo das possibilidades, nunca além. Só se conhece a felicidade porque
existe a infelicidade. Os contrastes é que revelam o benéfico e o que é maléfico.
Recusam a esperança e negam a felicidade prometida para o futuro; cuja está à disposição de todos, mediante
o cumprimento de determinados comportamentos adequados. O presente do futuro é
a espera. Parece inatingível, mas a misericórdia Divina torna possível, de
graça, para quem quer e segue a instrução. O presente já anuncia o futuro. Não
existem objetivamente respostas certas ou erradas para os problemas atuais, um
dia, quiçá isto será revelado. Cabe em lugar de respostas um pragmatismo
prudente e circunstancial. O excesso de confiança na inteligência humana conduz
à prepotência. A lucidez conduz à discussão para a busca comum da verdade, sem
renunciar à esperança do seu verdadeiro significado a ser revelado no futuro
transcendental. Todo o real é racional.
Todo o amor quer
eternidade; só amor de Deus a realiza. O verdadeiro amor é incondicional. Só o
absoluto não morre; o renascer aponta para o relativo e o incessantemente
aponta para o absoluto. O Amor implica em regeneração permanente do amor
nascente. À medida que nos aproximamos da morte, defrontamo-nos com o mistério
do absoluto. Toda a realidade que nos afeta de maneira incondicional esconde
algo de absoluto. O ser humano nasce natureza, faz-se cultura e se insere na
sociedade.
A tecnologia
desempenha papel fundamental no processo de mudança. O primeiro encontro se dá
no mundo das coisas; nada existe no intelecto sem antes ter estado nos
sentidos. A primeira pergunta diante de uma mudança: para onde se muda? Só tem
sentido mudar da morte para a vida. A vida brota das mãos de Deus. Hoje só faz
parte da sociedade quem consome e à medida que o faz. Quanto mais participa do
mercado mais cidadão. Todavia, o ter só adquire verdadeiro significado, na
medida em que se vincula ao ser. As coisas foram criadas para serviço do homem
e não ao contrário. Na versão antropológica, o ter deve servir para a
realização do ser do homem, como última finalidade. A lucidez interfere
relembrando o destino derradeiro do ser humano e orientando o uso de tudo nesta
direção. O bem comum supõe que os humanos foram criados para alcançar o bem o
tempo todo. A realização pessoal só é legítima se estiver em harmonia com a
realização dos outros. Aqui o ser humano nunca tocará a raiz última dos
problemas. Resta criar novas relações sociais, economia solidária, a produção
voltada para o bem estar de todos, o vegetarianismo, a economia ecológica, a
gratuidade do acesso ao saber, sociedade comunitária autogestionária, uma
inteligência universal com capacidades criativas a todos e novos modos de viver
e criar. Para a sustentabilidade tem que ser ecologicamente correto,
economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. Pertence ao
ser humano a natureza do duplo movimento de criar estruturas para viver e
regras de comportamento; cuja falta amedronta, mas a sua existência também
asfixia. Nisto implica a lucidez da liberdade responsável. Sem norma o convívio
social não existe. A lucidez sempre traça o caminho entre os extremos.
Existiram realidades antes de nós, foram vividos valores que nos transmitiram e
que atravessaram a fugacidade do instante. Há realidades transcendentes. Somos
o que recebemos e o que criamos. Do passado vêm lições, valores e leis que são
resignificadas no presente.
Tudo se
encontra aberto, mas tem um traço. Surgem incertezas a cada momento, nas
menores coisas. Não podemos ter a pretensão de dominar o futuro e nem a
realidade; mas isto não significa ficar alienado. A lucidez sempre é a
conciliação, o meio que prepara o espírito para vencer os obstáculos. Nada se resume totalmente ao
mensurável, sempre algo fica fora. Ninguém possui a verdade para si. Só com
lucidez caminha-se retamente no labirinto das tensões. A globalização não é um
fato acabado, mas um processo em marcha. O pensar é a busca da verdade e faz
parte da natureza humana e da interioridade da pessoa. Liberdade e
pensar relacionam-se intrinsecamente. A
verdade, o bem e a beleza são sublimes, quem os descobre sente a necessidade de
transmiti-los aos outros. Nem toda a verdade liberta, nem toda opinião enobrece
e nem todo o conhecimento constrói. A lucidez crítica ajuda discernir. O pensar
não conhece limite. A visão da totalidade facilita a articulação das partes no
todo. Se tomarmos um problema, dividimo-lo em partes, resolvendo cada parte,
teremos o problema resolvido. O Imaginário da fragmentação encanta pela
sensação de liberdade e pela variedade de opções.
A lucidez corrige
o extremo da autonomia antropocentrista, indicando os limites de dependência e
os toques de transcendência; porque a razão humana depende muito mais do que
imagina, embora a sua luta pela autonomia. A lucidez explica justamente as
subjetividades envolvidas. O conhecimento é poder, mas vale até que outros
conhecimentos o destronem. É o relativismo. Nem a pura objetividade existe e
nem a pura subjetividade. A ciência adquire sentido na medida em que serve a
toda a humanidade e torna os humanos menos brutos. O ser humano acabou tornando as descobertas
científicas como mitos. Na estatística trabalha-se com a racionalidade
probabilística, renuncia-se à certeza. Aponta-se o quociente de erro, para dar
maior cientificidade. A lucidez mostra o falso brilho do lucro, propaganda,
consumo. O futuro que sacrifica o presente e mobiliza cegamente as forças
desencadeia processos suicidas. Sensatez é viver o presente com os olhos no
futuro. Inquieto está o coração do homem até que descanse em Deus.
Tolerância
implica em reconhecer o verdadeiro direito de o outro expressar-se. O último
tribunal é a consciência. Uma das responsáveis pela felicidade é a estética, como
forma de expressão humana. O bom senso é uma das coisas mais bem divididas entre as
pessoas, para a sua harmonia. Qualquer leitura implica em interpretação. Os
sistemas de crenças exercem papel protetor da vida social. Nascemos completos,
mas não perfeitos. Não nos faltava nada para existir como humanos. Habita na
mente humana a transcendência. O ser humano deve ser educado para a
solidariedade e a fraternidade. Qual o sentido da existência humana? O que é a
salvação e como ela se realiza? Salvamo-nos do passado, no presente e para o
futuro. Porque a culpa aprisiona. O remorso faz sofrer. O mal praticado é
coberto pela misericórdia perdoadora de
Deus.
A lucidez
coloca luz, bom senso, reflexão, ocasiona mudança, revisão de posturas e
ideologias e transforma o indivíduo.
“Quão nobre é a
intenção de aperfeiçoamento pessoal, para atingir parâmetros de harmonia cósmica.
(EM).”
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