DERMATOSE
OCUPACIONAL
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A dermatose ocupacional é uma doença que afeta a pele de trabalhadores que laboram em contato com agentes e produtos físicos e
químicos causadores de alergia e irritação. As
dermatoses ocupacionais ou Dermatites de contato ou alérgicas ocorrem locais de
trabalho que usam solvente, óleos minerais, cimento, cal e similares.
Dermatose
ocupacional é qualquer alteração da pele, mucosa e anexos, direta ou
indiretamente causada, condicionada, mantida ou agravada por agentes presentes
na atividade ocupacional ou no ambiente de trabalho.
Causas Diretas: Agentes
Químicos: cimento, borracha, derivados de petróleo, óleos de corte, cromo e
seus derivados, níquel, cobalto, madeira e resina epóxi; Agentes Biológicos:
bactérias, fungos, leveduras e insetos; Agentes Físicos: calor, frio,
vibrações, eletricidade, radiações ionizantes e não ionizantes, micro-ondas,
laser e agentes mecânicos.
Causas
Indiretas: Os Fatores Predisponentes como Idade, Sexo, Etnia, Clima, Antecedentes.
Diagnóstico: Para o diagnóstico e o
estabelecimento das condutas adequadas das dermatoses ocupacionais, confirmadas
ou suspeitas, deve-se considerar o Quadro clínico; História de exposição
ocupacional, observando-se concordância entre o início do quadro e o início da exposição,
a localização das lesões em áreas de contato com os agentes suspeitos e a melhora
com o afastamento e piora com o retorno ao trabalho.
Na DCA, as
lesões ocorrem nas áreas de contato com a substância sensibilizante, onde são
mais intensas, e também à distância, podendo ser disseminadas. Após a exposição
prévia, as lesões surgem em períodos de tempo variáveis, sendo necessário um
período mínimo de uma semana para a sensibilização, e podem ocorrer após meses
ou anos de contato. A DCA pode surgir de forma abrupta após contato prévio com
o sensibilizante. A cada reexposição, a intensidade e a extensão das lesões
podem piorar e surgir mais rapidamente.
As lesões
eczematosas podem ter evolução aguda (eritema, edema, vesículas, bolhas e
exsudação), subaguda (exsudação e crostas) e crônica (xerose, descamação,
queratose, infiltração, liquenificação e fissuras). DCI relativa é crônica e a
DCI absoluta é aguda, e se manifesta como uma "queimadura" com:
eritema, edema, necrose, bolhas, crostas e ulcerações.
As dermatites de contato não eczematosas são:
disidrose (metais, óleos de corte); dermatite liquenoide de contato
(reveladores fotográficos, resina epóxi, Ni e Cu); urticária de contato não
imunológica e imunológica (mediada por IgE), que ocorrem minutos depois do
contato (látex, alimentos, plantas, medicamentos, conservantes, fragrâncias)26;
vitiligo químico – leucodermia de contato (hidroquinona); erupção purpúrica de
contato (produtos da borracha e branqueadores de roupas); eritema polimorfo –
símile de contato (plantas, madeiras, medicamentos e pesticidas); erupção
pustulosa (metais e pomadas); dermatite queratósica de contato (DCA por
borracha); DC hipercromiante pós-eczematosa ou não (cremes, conservantes de
óleos, perfumes, corantes, madeira, sabão em pó e limão).
TRATAMENTO:
A
identificação e o afastamento do agente causal são medidas de fundamental
importância. O tratamento deve ser orientado claramente, fornecendo-se por
escrito os nomes dos produtos e das substâncias com os quais o paciente não pode
entrar em contato. O tratamento precoce pode diminuir o tempo de evolução das
lesões e evitar complicações. Deve-se considerar que o EPI, as infecções
secundárias e os medicamentos utilizados pelo doente podem provocar irritação
ou sensibilização e as dermatoses auto-induzidas mascaram e pioram a dermatose
ocupacional.
O tratamento
depende da extensão e da intensidade das lesões. Nas lesões agudas, isto é,
exsudativas, devem ser utilizadas compressas de água burricada a 2% ou 3%, ou
permanganato de potássio a 1:40.000 e cremes à base de corticóide. Nas formas
localizadas de DC crônicas, com lesões descamativas e liquenificadas,
preconiza-se o uso de cremes e pomadas à base de corticóides de potência
variável, conforme a região afetada. Nas lesões extensas, usam-se corticóides
sistêmicos, de preferência, prednisona, em doses iniciais de 0,5mg-1mg/kg/dia,
com redução gradual. Se houver infecção secundária, deve ser associado
antibiótico tópico e/ou sistêmico. Os anti-histamínicos sistêmicos sedativos
podem ser utilizados para tratar o prurido. As infecções ocupacionais são
tratadas de acordo com cada agente etiológico. Os cânceres relacionados a
atividades profissionais são tratados de acordo com cada tipo histológico e estadiamento
tumoral.
As DOs que
causam incapacidade requerem readaptação profissional, com orientação médica,
vocacional e psicotécnica.
PREVENÇÃO:
As medidas de prevenção nas DOs são extremamente
importantes. As empresas devem adotar medidas coletivas para proteção, como
exames médicos periódicos e orientações ao trabalhador, para evitar recidivas e
o aparecimento de novos casos de DOs, que geram desconforto para o trabalhador,
incapacidade para a profissão, mudança de função, diminuição da produção, dos
rendimentos do trabalhador e da empresa, e aumento dos custos médicos e
previdenciários.
A higiene pessoal deve ser cuidadosa e é indicado o
uso de emolientes. As vestimentas devem ser mantidas limpas. As áreas do corpo
contaminadas com agentes nocivos devem ser lavadas imediatamente e hidratadas
com cremes sem fragrância. A orientação mais importante na prevenção das DCs é
o afastamento do fator irritante ou alergênico. Uso de EPIs adequados (botas,
gorro, máscara, avental e luvas), roupas especiais e conscientização da higiene
pessoal. Os cremes de barreira devem ser usados antes de a dermatite se
desenvolver, uma vez que seus componentes podem causar dermatite de contato
irritativa e alérgica, especialmente, se usados na pele lesada. A fotoproteção por roupas e tópicos
fotoprotetores é fundamental nos que se expõem a raios ultravioleta.
O uso de luvas adequadas é necessário na prevenção
de DOs (exceto nos trabalhos em que a destreza manual é necessária e quando a
utilização de luvas implica riscos de acidente de trabalho). Os alérgicos à
borracha devem utilizar luvas de vinil ou poliuretano. Os alérgicos ao látex
das luvas também podem utilizar a borracha sem látex. Os alérgicos a acrilatos
devem usar luvas de nitrila.
Na prevenção de DCAs ao cromo nos trabalhadores da
construção civil, é necessário adicionar sulfato ferroso ao cimento, o qual
reduz o cromo hexavalente a cromo trivalente, menos sensibilizante.
A prevenção implica em avaliar o ambiente de
trabalho, para conhecer riscos potenciais e reais para o trabalhador e propor
medidas que neutralizem esses riscos, que devem ser avaliados de acordo com a
atividade executada, porque a função de cada trabalhador na atividade exige
processos diferentes da prevenção.
NÍVEIS NA PROTEÇÃO DO
TRABALHADOR: Prevenção primária: compreende a promoção da saúde, com as edificações e os
diversos setores e instalações industriais obedecendo às regras que estabeleçam
conforto, bem estar e segurança no trabalho. Estrutura sanitária de fácil
acesso e que permita boa higiene pessoal. Restaurante com alimentação
apropriada para o clima e a atividade exercida. Centro de treinamento. Orientação
sobre riscos específicos atinentes à atividade. Metodologia segura de trabalho.
Orientação sobre doenças gerais: tuberculose, aids, diabetes, hipertensão,
estresse e outras. Males sociais: tabagismo, alcoolismo, drogas, medicamentos, ansiolíticos
psicotrópicos, outros. Normas de higiene e imunização.
Prevenção
secundária: Detectando possíveis lesões que estejam ocorrendo com o
trabalhador, por meio do atendimento no ambulatório da empresa. Mediante
inspeção periódica aos locais de trabalho. Por meio dos exames periódicos e do
tratamento precoce.
Ação de
forma imediata, neutralizando ou minimizando os riscos, e evitando que a
dermatose se instale e atinja os trabalhadores expostos.
Prevenção
terciária: O trabalhador apresenta lesões cronificadas ou em fase de cronificação. É fundamental a
adoção de medidas terapêuticas adequadas como: retirada do ambiente de
trabalho, testes epicutâneos para detectar a presença de possíveis alérgenos. No
caso de alergia por cimento (cromatos e cobalto), haverá impedimento para o
retorno à mesma atividade; neste caso o trabalhador deverá ser reabilitado para
outro tipo de atividade onde possa atuar afastado do risco.
DIRETRIZES DE SAÚDE:
• Atenção
Integral à Saúde dos Trabalhadores;
•
Articulação Intra e Intersetoriais;
•
Estruturação de Rede de Informações em Saúde do Trabalhador;
• Apoio ao
Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas;
•
Desenvolvimento e Capacitação de Recursos Humanos;
•
Participação da Comunidade na Gestão das Ações em Saúde do Trabalhador.
Portaria n.º 777/04 são: acidentes de trabalho
fatais, com mutilações, com exposição a materiais biológicos, com crianças e
adolescentes, além dos casos de dermatoses ocupacionais, intoxicações por
substâncias químicas (incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados),
Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados
ao Trabalho (Dort), pneumoconioses, Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) e
câncer relacionado ao trabalho.
SÍNTESE
DAS MEDIDAS DE PREVENÇÃO:
Reconhecimento
das atividades e locais de trabalho onde existam substâncias químicas, agentes
físicos e biológicos ou fatores de risco,decorrentes da organização do
trabalho, potencialmente causadores de doenças.
– Identificação
dos problemas ou danos potenciais para a saúde, decorrentes da exposição aos
fatores de riscos identificados.
– Proposição das
medidas a serem adotadas para eliminação ou redução da exposição aos fatores de
risco e de promoção e proteção da saúde do trabalhador.
– Orientação e
informação aos trabalhadores e empregadores.
– A partir da
confirmação ou mesmo suspeita do diagnóstico da doença e de sua relação com o
trabalho, os serviços de saúde responsáveis pela atenção a trabalhadores devem
implementar as seguintes ações:
– Avaliação da
necessidade de afastamento (temporário ou permanente) do trabalhador da
exposição, do setor de trabalho ou do trabalho como um todo. Esse procedimento
poderá ser necessário mesmo antes da confirmação do diagnóstico, diante de uma
forte suspeita.
– Caso o
trabalhador seja segurado pelo SAT da Previdência Social, solicitar à empresa a
emissão da CAT, preencher o LEM e encaminhar ao INSS. Em caso de recusa de
emissão da CAT pela empresa, o médico assistente deve fazê-lo.
– Acompanhamento
e registro da evolução do caso, particularmente se houver agravamento da
situação clínica com o retorno ao trabalho.
– Notificação do
agravo ao Sistema de Informação de Morbidade do SUS, à DRT/MTE e ao sindicato
da categoria.
– Ações de
vigilância epidemiológica, visando à identificação de outros casos, por meio de
busca ativa na mesma empresa ou no ambiente de trabalho o em outras empresas do
mesmo ramo de atividade na área geográfica.
– Se necessário,
completar a identificação do agente agressor (físico, químico ou biológico) e
das condições de trabalho determinantes do agravo e de outros fatores de risco
contribuintes.
– Inspeção da
empresa ou ambiente de trabalho de origem do paciente e de outras empresas do
mesmo ramo de atividade na área geográfica, procurando identificar os fatores
de risco para a saúde, as medidas de proteção coletiva e os EPI utilizados.
Pode ser importante a verificação da existência e adequação doPPRA (NR 9) e do
PCMSO (NR 7), da Portaria/TEM n.º 3.214/1978.
– Recomendação
sobre as medidas de proteção a serem adotadas pelo empregador, informando-as
aos trabalhadores. A proteção da saúde e a prevenção da exposição aos fatores
de risco envolvem medidas de engenharia e higiene industrial, mudanças na
organização e gestão do trabalho e de controle médico dos trabalhadores
expostos, entre elas:
– substituição
do agente, substância, ferramenta ou tecnologia de trabalho por outros mais
seguros, menos tóxicos ou lesivos.
– isolamento da
máquina, agente ou substância potencialmente lesiva, por meio de
enclausuramento do processo, suprimindo ou reduzindo a exposição;
– medidas de
higiene e segurança ocupacional, como implantação e manutenção de sistemas de
ventilação local exaustora adequados e eficientes, capelas de exaustão,
controle de vazamentos e incidentes por meio de manutenção preventiva e
corretiva de máquinas e equipamentos e monitoramento sistemático dos agentes
agressores;
– adoção de
sistemas de trabalho e operacionais seguros, por meio da classifi cação e
rotulagem das substâncias químicas segundo propriedades toxicológicas e
toxicidade;
– diminuição do
tempo de exposição e do número de trabalhadores expostos;
– informação e
comunicação dos riscos aos trabalhadores;
– utilização de
EPI, especialmente óculos e máscaras adequadas a cada tipo de exposição, de
modo complementar às medidas de proteção coletiva.
“Prevenir é
planejar todas as ações previsíveis que possam impedir as ocorrências indesejáveis
e adotar as medidas neste sentido. (EM).”
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